- COMPRAS: É mesmo uma atividade estratégica?

....Considerando somente a dimensão financeira da área de compras já seria suficiente para considerá-la estratégica para as empresas, especialmente para aquelas que atuam na área da construção civil. Nestas empresas, o custo dos insumos é bastante significativo em relação ao total de gastos das obras, o que leva os empresários a lhe dar um tratamento diferenciado.
....A chamada curva ABC, largamente utilizada também em outros segmentos da economia, hierarquiza os produtos que devem ter tratamento especial, definindo, inclusive, aqueles que só podem ser adquiridos e negociados pela alta direção da empresa.
....Mas esta visão financeira, a meu ver, é uma simplificação da importância desta atividade, ela é muito mais estratégica do que inicialmente possa parecer, o que exige um tratamento e uma atenção ainda maior, pelo desdobramento que a partir dela pode resultar. Senão vejamos:
....Estamos vivendo uma em era de alta competitividade, onde os clientes estão cada vez mais exigentes, novos materiais e acabamentos estão surgindo a cada momento, novas tecnologias de aplicação estão sendo desenvolvidas e, além de tudo isso, as margens de lucro estão cada vez menores.
....Ainda temos a questão da qualidade, que foi no passado um diferencial para algumas empresas e hoje passou a ser um pré-requisito para todas aquelas que pretendem competir no mercado – isso quando não é exigida a certificação de qualidade emitida por empresas independentes, como o ISO 9000 ou o PBQP-H.
....Portanto, qualquer pequeno erro pode ser fatal para as empresas, pode gerar grandes prejuízos financeiros ou mesmo comprometer a sua imagem.
....Todas as transformações que estão ocorrendo no mercado, tanto as de natureza econômica quanto as de natureza social, estão exigindo mudanças na gestão das empresas. Muitas já estão se adaptando aos novos tempos e estão incluindo novas posturas e novas formas de atuar, mas outras ainda não adotaram as novas estratégias necessárias para se modernizarem.
ALGUMAS COISAS QUE PRECISAM SER MUDADAS
....Tradicionalmente as empresas se organizavam de acordo com um modelo onde cada departamento tem a sua responsabilidade definida, procurando conviver harmonicamente com os outros. Neste modelo cada unidade tem vida própria, equipes próprias, com procedimentos específicos, se relacionando com os demais departamentos como se fossem empresas distintas, umas fornecendo produtos ou informações e outras “adquirindo-os” para atender os clientes da empresa, mas sempre agindo de forma reativa, isto é, atendendo a uma solicitação de alguém.
....Neste modelo, o departamento de marketing tem a responsabilidade de vender, o departamento de planejamento de planejar; o departamento de compras de comprar; a obra de construir; e assim por diante.
....Mais do que óbvio, não é mesmo?
....Cada qual com a sua responsabilidade, cada um produzindo o seu produto, cada departamento com os seus limites de competência e de autoridade, cada chefe com sua equipe. A diretoria, por sua vez, delegando aos seus gerentes a responsabilidade da execução e deles cobrando os resultados esperados.
....Mas, e quando ocorre um erro? Aí a empresa passa a ter mais um problema, que é achar o culpado. De quem foi o erro pela baixa qualidade? De quem é o erro pelo atraso da entrega? Ou quem foi o responsável por este prejuízo?
....A partir daí começa um jogo muito comum nas empresas que é o “jogo de caçar o culpado”. Alguém tem que ser “crucificado” e, por isso, todos procuram se eximir de responsabilidades e justificar a sua ação ou omissão. No final, independente de quem errou, será a empresa a grande perdedora, isto é, todos acabam perdendo.
....A tendência das empresas hoje é organizar o trabalho a partir das seguintes estratégias: foco no cliente, orientação para os resultados e valorização da equipe..
....Foco no cliente para identificar as suas necessidades e poder superar as suas expectativas.
....Orientação para os resultados para que a empresa consiga sobreviver – através do lucro – e consiga se perpetuar – gerando resultados não-econômicos.
....Valorização da equipe, fazendo com que todos sejam co-responsáveis por tudo que acontece na empresa, que se integrem e se envolvam com o trabalho de todos, para viabilizar os resultados estabelecidos.
....Logicamente a área de compras também se inclui neste modelo. Com isso ela passa a ter, além da preocupação financeira, envolvimento direto com as demais áreas da empresa, isto porque o comprador hoje não pode ficar limitado a identificar o fornecedor, negociar preços e acompanhar o recebimento dos materiais. Isto está sendo considerado pré-requisito, são básicas na sua atividade.
....O papel do comprador é mais abrangente, ele precisa se envolver com as outras áreas da empresa e passar a ser um colaborador na consecução dos resultados organizacionais.
....É fundamental que ele se relacione com a área de marketing para conhecer o perfil dos clientes e com isso identificar no mercado as alternativas de produtos disponibilizados pelos fornecedores, contribuindo no planejamento e na especificação dos materiais.
....É imprescindível que ele conheça o fluxo de caixa da obra para poder planejar o fluxo de suprimento e o respectivo cronograma de desembolso, já que os custos financeiros podem comprometer os resultados operacionais.
....Deve selecionar e qualificar os seus fornecedores para garantir a qualidade da obra e o cronograma de construção, pois os clientes vão exigir o produto no prazo, condições e padrões que lhe foi prometido.
....Enfim, deverá interagir com todos os agentes, internos e externos, que atuam no processo, através de uma comunicação clara e eficiente, na velocidade que o mundo de hoje exige. Na velocidade digital.
....Só assim serão garantidas a qualidade dos empreendimentos, a satisfação dos clientes, a saúde financeira dos empreendimentos e a relação harmoniosa entre todos que trabalham na empresa.
....Resumindo, hoje é imprescindível que a atividade de compras passe a ser entendida não só pela sua importância financeira, mas pela sua participação efetiva na definição das estratégias do empreendimento. É importante que ela atue de forma interdependente com as demais áreas, ser parte de uma equipe que permitirá à empresa a viabilização dos resultados que garantam o seu sucesso.

Hermano Wrobel